sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Isto é refrigerante?



As camareiras de hotéis de pequeno e médio porte tem por obrigação conferir e repor os itens de minibar, emitindo a comanda de consumo dos hóspedes e enviando à recepção para que sejam debitadas nas contas dos hóspedes. Normalmente a conferência se dá apenas visualmente, quando o minibar é aberto e todos os itens conferidos. Mas este método não é o mais indicado, e vou dizer o porquê:

No hotel de Búzios, certo dia, o hóspede ligou para a recepção reclamando que seu minibar estava cheio de latinhas de cerveja e refrigerante cujo conteúdo não coincidia com o informado na embalagem. O recepcionista avisou a governanta e esta foi verificar. Voltou com TODAS as latinhas de refrigerante e cerveja do apartamento e foi direto a minha sala:

- Carlos, dê uma olhadinha nestas latas e veja se tem algo de errado.

Olhei as latas e estavam todas intactas, com o lacre sem sinais de arrombamento.

- Dá uma olhadinha nos fundos - disse a governanta.

Ao ver os fundos, havia em todas as latas um pedacinho de chiclete tampando um buraquinho, por onde os hóspedes anteriores haviam esvaziado as latas e enchido com outro líquido, no caso - felizmente - água.

Pedi à governanta então que fizesse uma varredura em todo o hotel para verificar se havia mais algum caso que não tivesse sido identificado pelas camareiras e, pouco tempo depois, a governanta voltou com várias outras latinhas com os mesmos sinais de "arrombamento". Três apartamentos, no total, com latinhas de cerveja e refrigerante furadas e buracos fechados com chiclete.

Pedi ao recepcionista para identificar quem havia se hospedado no hotel na semana anterior naqueles apartamentos. Descobrimos que eram todos argentinos, que tinham se hospedado no hotel num grupo de operadora. Mesmo que quiséssemos, não conseguiríamos efetuar a cobrança dos valores.

Fizemos então a checagem de conteúdo das latas e pasmem: muitas estavam cheias de URINA. É isto mesmo, xixi. Agora imaginem o trabalho que o FDP teve pra colocar xixi dento das latinhas por um furinho feito com a ponta de uma caneta esferográfica.

A partir daí começo a concluir que não são só os orientais que devem ser prejudicados com o tamanho de um de seus membros dedicados ao lazer: OS ARGENTINOS TAMBÉM SÃO!



IOBOSEO

Trabalhava num flat daqui de São Paulo, por volta de 1994. Como todo flat, existiam lá moradores, hóspedes de curta permanência e mensalistas. Não é necessário dizer que alguns espécimes raros frequentavam o estabelecimento, alguns muito chatos e outros divertidíssimos, algumas garotas de programa e alguns tarados, alguns brasileiros e alguns estrangeiros. Dentre estes estrangeiros, relato a seguir a história da Dona Ioboseo... claro que o nome dela não é este, aliás nem imagino o nome dela, já que nome de coreano não é tão simples como todos imaginam.

Esta senhora era mensalista e não me recordo o que fazia no Brasil. Lembro-me de uma negra lindíssima de Gana que vinha ao Brasil comprar móveis e artigos e decoração para sua loja em seu país; lembro-me de uma garota de programa que sempre pedia pizza aos domingos à tarde e comíamos todos juntos, recepcionistas, mensageiros, telefonista e quem mais aparecesse; lembro-me de muita coisa, mas o que a coreana fazia nem me passa pela cabeça: Ilka, se estiver lendo me refresca a memória.

Pois bem, esta senhora tinha uma deficiência visual muito acentuada e usava óculos de fundo de garrafa.

Não bastasse este detalhe, a mulher não falava uma palavra em português, inglês, espanhol, italiano ou francês (o que bastaria pra gente tentar se entender). Ela era muito, mas muito simpática, mas nossa comunicação se restringia à Comunicação Internacional por Sinais. Ela sempre pedia para usar o telefone da recepção e sempre ouvíamos a palavra ioboseo (iôbossêô)... depois descobrimos que esta palavra correspondia ao nosso "ALÔ".

Pois bem, um belo dia a Dona Ioboseo, como sempre, pediu para usar o telefone da recepção com o tradicional gesto hangloose com o mindinho próximo à boca e o polegar próximo ao ouvido. A recepcionista, que estava ao telefone na outra estremidade do balcão, apenas fez um gesto de "positivo" e a Dona Ioboseo, debruçada sobre o balcão da recepção, começou a discar o número desejado no aparelho.

Não sei quanto tempo se passou, mas a recepcionista entra de repente no back da recepção e diz:

- Muri, você tem que ver isso!

A propósito, Muri sou eu... apelido de faculdade... oriundo de Muriçoca, trocadilho nada original com meu sobrenome Maniçoba. Culpa da Doris Ruschmann... mas tudo bem, aceitei e incorporei!

Quando entrei na recepção, a calculadora sobre o balcão já tinha mais de metro de papel da bobina, sendo cuspido a todo instante, pois a Dona Ioboseo, ao invés de teclar os números no aparelho telefônico, o fazia na calculadora. E a mulher já estava nervosa pois sua ligação não completava.

Gentilmente, peguei o aparelho telefônico, coloquei sobre o balcão e saí da recepção correndo pra não cair na gargalhada na frente dela. Desculpem, mas não é preconceito. Até entendo a dificuldade dela, mas a situação foi muito engraçada.