domingo, 27 de dezembro de 2009

Famoso jogador de futebol.


Recebemos em Maceió, certa vez, um famoso jogador de futebol e sua família, incluindo pai, mãe, esposa e filhos. Todos ficaram hospedados em apartamentos do mesmo andar.

O Sr. Robertinho (não posso dizer o nome dele, né?) e sua esposa fizeram logo amizade com um casal com quem conversavam muito na piscina, almoçavam juntos, faziam passeios, etc. Este casal também estava hospedado no hotel e era de São Paulo.

Numa bela manhã o Sr. Robertinho apareceu na recepção do hotel dizendo que havia sofrido uma tentativa de assalto ao sair da sauna do hotel. Junto com ele estava um segurança do hotel. Chamei-o para a minha sala a fim de ouvir seu relato e tomar as providências cabíveis. O segurança acompanhou-o.

O segurança disse que, ao fazer a ronda, encontrou o Sr. Robertinho pendurado na marquise que cobre o corredor lateral da sauna, e que ajudou-o a descer.

A história foi assim relatada pelo Sr. Robertinho:

- Estava saindo da sauna, com a carteira dentro de um saco plástico, mais a chave do apartamento. Quando andava pelo corredor para chegar à recepção, um garoto de cerca de 15 anos pulou o muro que dá acesso à quadra de tênis e, com um canivete apontado para mim, pediu que eu entregasse tudo. Bati na mão dele, derrubei o canivete e ele saiu correndo. Fui atrás dele e ele subiu na marquise e eu fiz o mesmo. Quando chegou na ponta da marquise, ele pulou lá pra baixo, no estacionamento. Fui fazer o mesmo para continuar seguindo, mas é muito alto e preferi não me arriscar. Quando estava descendo da marquise, o segurança me encontrou. Ele foi até a garagem do prédio mas não encontrou ninguém, então o moleque fugiu.

- O senhor quer registrar uma queixa? - perguntei.

- Não é necessário. Só decidi contar a história pra vocês tomarem mais cuidado, pois aquele muro é um ponto fraco do hotel, e qualquer um pode pular e entrar aqui para assaltar os hóspedes.

- O senhor tem certeza que não quer registrar uma queixa? Nós podemos chamar a polícia e resolver tudo - continuei insistindo.

- Não! Deixa prá lá... ele não roubou nada de mim... esquece a história, tá bem?

- Tudo bem, Sr. Robertinho, mas se o senhor mudar de idéia pode falar comigo.

O Sr. Robertinho agradeceu e foi para seu apartamento.

Depois, conversando com o segurança e obtendo informações com outros funcionários do hotel, matamos a charada:

O casal com quem o Sr. Robertinho fez amizade, estava hospedado no primeiro andar, logo acima do ponto onde houve o suposto assalto. Ninguém viu o Sr. Robertinho na sauna, nem a funcionária que lá trabalhava. O garçon disse que estavam todos na piscina, e que a esposa do rapaz de São Paulo, saiu da mesa e foi em direção à recepção. Alguns minutos depois o Sr. Robertinho disse que iria subir, tomar um banho e tirar um cochilo. Ficaram na piscina o pai, a mãe e a esposa do Sr. Robertinho, e o marido da mocinha com dor de cabeça.

Pra bom entendor meia palavra basta... rsrsrs.

Não satisfeito, fui conversar com o casal de São Paulo. Ela disse que estava assistindo TV, quando ouviu um barulho vindo da varanda do seu apartamento e quando saiu para ver, viu o Sr. Robertinho correndo atrás de um garoto em cima da marquise do prédio, justamente na hora em que seu marido entrou no apartamento. O marido, por sua vez, disse que ao entrar no apartamento, viu sua esposa na varando do prédio, e ao aproximar-se para ver do que se tratava, viu o Sr. Robertinho descendo da marquise do prédio com a ajuda do segurança, gritando "é assalto, é assalto".

Ficamos todos satisfeitos com a história. Anotei no Log Book a versão do Sr. Robertinho e as constatações feitas com os funcionários do hotel.

Podem tirar suas próprias conclusões!

Fonte da imagem: http://www.globalhotelindex.com/hotel_pictures/2253/2253369/normal/2253369.jpg

domingo, 4 de outubro de 2009

Sudário das Alagoas.


Para quem não sabe do que se trata, o Santo Sudário é o tecido de linho que envolveu Jesus Cristo após sua morte. Depois da crucificação Jesus estava todo ensanguentado, com as marcas dos ferimentos e estas marcas ficaram no tecido, como uma fotografia de seu corpo.

Mas o sudário ao qual me refiro foi feito por outra técnica, muito simples e muito eficaz.

Recebemos no hotel, no interior de Alagoas, uma hóspede que deciciu inovar nos métodos de confecção de sudários. A broaca hospedou-se num fim de semana, vindo de Maceió. Passou o sábado inteiro na piscina do hotel, besuntada de blondor e água oxigenada 2 mil volumes, afinal tinha que ficar com TODOS os pêlos do corpo louríssimos.

Cansada, no final do dia, a broaca deciciu subir para o apartamento para tirar uma sonequinha. Cansada como estava, tirou toda a roupa e deitou-se na cama, esquecendo-se de tirar a colcha azul ou de pelo menos tomar uma ducha para tirar o excesso de blondor e água oxigenada (ou talvez quisesse que estes agissem na sombra também).

No dia seguinte, domingo, a camareira foi à recepção com a colcha do apartamento da broaca: o sudário das Alagoas. Podia-se distinguir o corpo da moçoila marcado na colcha, em enormes manchas amareladas, desbotadas em contraste com o restante da colcha, azul royal. Como sempre se faz em casos de danos ao patrimônio do hotel, debitamos da conta da hóspede o valor da colcha e a deixamos dentro de um saco plástico para a hóspede levá-la para casa depois de pagar pelo dano.

Como todos os hóspedes tinham concessão de late check out (sair do hotel à tarde), a broaca apareceu com seu marido para pagar a conta por volta de 17 horas. Ao receber a conta, o marido questionou o recepcionista sobre uma comanda de "diversos" lançada com um valor relativamente alto (a colcha não estava à venda, portanto o hotel poderia cobrar o preço que quisesse, sem falar que as colchas haviam sido tecidas à mão por uma artesã pernambucana). O recepcionista, educadamente, pegou a colcha dentro do saco plástico e colocou sobre o balcão, explicando o motivo da cobrança. O marido, alterado, chamou a esposa e mostrou a colcha.

- Mas quando chegamos ao hotel a colcha já estava manchada - disse a esposa cínica.

O recepcionista insistiu que a colcha estava sem nenhuma mancha, e que não se coloca enxoval danificado no apartamento, e que com certeza o dano foi causado pelos hóspedes. Como sempre acontece em caso de hóspede cheio de razão, veio a tradicional frase:

- Isto é ridículo! Já me hospedei nos melhores hotéis do mundo e isto nunca aconteceu com a gente.

O recepcionista me chamou na recepção para conversar com o hóspede. Após diversas ameaças, o marido pagou a conta e exigiu levar a colcha com ele. Quitamos as contas, emitimos a nota fiscal e a esposa saiu carregando o saco plástico com seu sudário. Imagino o clima no carro de volta a Maceió... deve ter sido uma briga só.

Mulheres, usem blondor, água oxigenada, tinta de cabelo e tudo o mais para ficarem bonitas e gostosas. Mas não manchem colchas, lençóis, toalhas e fronhas do hotel. É impressionante a quantidade de toalhas perdidas com manchas de tintura de cabelo, pisos de banheiros (tapete) manchados com gracha de sapato de executivos, etc.

Danificou? PAGOU!

Gavião não gosta de vermelho!


Este fato aconteceu no hotel de Búzios, onde fui gerente geral.
Um dos grandes problemas de trabalhar em hotéis que têm um único proprietário é ter que receber todos os parentes do proprietário com tarifa ZERO. Depois o dono fica reclamando que a diária média está baixa mesmo tendo uma taxa de ocupação alta. Craro, né Cróvis! Basta prestar atenção nas aulas de hotelaria que você descobre que quanto mais hóspedes com tarifa ZERO maior é a taxa de ocupação e menor é a diária média... humpf!

Mas então... um belo sábado recebemos a irmã do proprietário com seu digníssimo esposo. Ficaram hospedados num chalé próximo a um dos cajueiros do hotel. Neste cajueiro morava um gavião muito bonito. Tínhamos muito orgulho do bicho, pois apesar do barulho e da rotatividade de pessoas, ele fez seu ninho no cajueiro e tinha lá seus filhotes.

Ao chegar ao seu chalé, a Dona Fulana estava de chapéu, óculos escuros (daqueles que cobrem a testa e as bochechas) com muitas jóias, muitas plásticas e muito botóx. Entrou no chalé, trocou-se e, com biquini de grife e canga de artista plástico, saiu rumo à piscina, onde seu marido estava e já havia tomado umas duas garrafas de uísque.

Ao sair do chalé, com seus óculos Chanel e com o chapéu na mão, a Dona Fulana nem conseguiu chegar ao meio do gramado, pois o gavião, ao ver aquela farta cabeleira vermelha, tão vermelha de causar inveja ao próprio Curupira, saiu do seu ninho piando alto e deu um vôo rasante na peruca da perua. A mulher ao se sentir perseguida, saiu correndo com a águia atrás. Chegando ao restaurante, Dona Fulana estava com os cabelos desgrenhados e alguns ferimentos na testa e no couro cabeludo, resultado das garras do gavião na sua cabeça.

A governanta pegou o kit de primeiros socorros e limpou as marcas de sangue e os ferimentos da digníssima senhora. Nada grave, só alguns arranhões que nem marca deixaram.

Seu marido, com sua pança enorme, ficou na piscina, ignorando o acidente de sua esposa. Dona Fulana colocou seu chapéu e saiu para a piscina, depois de um grande copo de suco de maracujá e algumas pílulas de calmante. Mas saiu na maciota, olhando para todos os lados e esgueirando-se pelas espreguiçadeiras.

O dia transcorreu perfeito, muito sol, muita diversão e muitas futilidades com suas amigas... a perua esqueceu o ocorrido.

No fim do dia, Dona Fulana decidiu voltar ao seu chalé, novamente sem chapéu. Devia estar meio grogue pelo efeito dos calmantes, do suco de maracujá e dos diversos Dry Martini consumidos à beira da piscina.

Novamente, ao chegar no meio do gramado, lá veio o gavião em seu vôo rasante, com as garras direto na peruca de Curupira da perua. A coitada correu tanto e tão rápido, que chegando ao seu chalé entrou voando e foi direto ao banheiro onde fechou a porta. Incrível foi o gavião entrar no chalé e ficar voando pelos cômodos procurando sua vítima. Vocês acham que alguém teve coragem de entrar no chalé para tirar o bicho? É ruim, hein!

Depois que o gavião desistiu, um rapaz da manutenção do hotel entrou e avisou a madame que já estava tudo bem. Nesta noite a perua ficou trancada no chalé e pediu seu jantar pelo room service.

No dia seguinte a perua estava escolada: enrolou um lenço na cabeça, ligou para a recepção do hotel e pediu que alguém fosse buscá-la no chalé com um guarda-sol. Tudo deu certo. Sorte nossa que já era domingo e todos iriam embora no fim do dia. Nenhum outro acidente foi registrado, mas o modelito da perua parecia mais um turbante o Ilê Aiê do que um singelo e barato lenço florido amarrado na cabeça.

Este foi o único incidente com o gavião no hotel. Depois disto a perua ficou um bom tempo sem aparecer, assim como seu marido e outros parentes. Foi um período tranquilo, sem cortesias de casa, comida e roupa lavada... e com nossos estoques de uísque sempre em dia.

Depois fui transferido para Maceió.

Cuidado mulheres: a cor vermelha não irrita só os touros não! Pensem bem antes de tingirem seus cabelos!

segunda-feira, 30 de março de 2009

Calma, Seu Jean Pierre... assim não!


Todas as camareiras sabem que, em caso de estupro, relaxem e usem o joelho... para bom entendedor meia frase basta!

Mas a camareira deste fato não precisou usar o joelho.

Jean Pierre hospedou-se no hotel aqui em São Paulo como mensalista, pretendendo passar cerca de três meses na cidade, fazendo a divulgação dos produtos alimentícios da empresa. Tratava-se de um senhor com um biotipo eclético: devia ter DNA de gnomo (tinha mais ou menos um metro e meio), ouriço (cabelos espetados), peixe telescópio (olhos esbugalhados, saltados para fora) e falava francês... somente francês.

A camareira, Célia, era uma senhora de origem nordestina, muito ética, muito responsável e extremamente auto-confiante. Era engraçada e muito divertida. A melhor e mais experiente camareira do hotel.

Um belo dia Célia foi fazer a limpeza do apartamento de Jean Pierre. Bateu à porta e o francês fez sinal para que entrasse. Célia começou a limpeza seguindo o padrâo: retirar todo o lixo e roupas sujas (lençóis, toalhas, fronhas, etc), limpar o apartamento inteiro e depois arrumar tudo. Enquanto isto, Jean Pierre ficou num canto, tentando não atrapalhar.

Quando Célia foi arrumar a cama, Jean Pierre aproximou-se e "abraçou-a" por trás, levando as mãos de gnomo diretamente aos peitos da camareira. Sentindo o clima esquentar, Célia disse manhosa:

- Calma, Seu Jean Pierre... assim não...

Virou-se de frente para o gnomo sorridente e de olhos esbugalhados e, com a mão direita, agarrou-o pelos colarinhos, quase levantando-o do chão, jogou-o em cima da cama e, apontando-lhe o dedo indicador na cara, disse:

- O se-nhor nun-ca mais fa-ça is-to! Disse assim mesmo, pausadamente, para se fazer entendida.

O gnomo quase teve um treco, afinal Célia era muito mais alta que ele (aliás TODOS no hotel eram muito mais altos que ele) e tinha compleição forte, carnuda. Levantou-se da cama tremendo e saiu do apartamento. Célia continuou seu trabalho como se nada tivesse acontecido.

O gnomo foi direto à sala da gerente geral. Falando francês muito rápido, mal conseguia se expressar, bufando, babando, gaguejando, cheio de trejeitos e biquinhos. A Gerente Geral não falava francês, então chamou a sub gerente, que por sua vez chamou-me para ajudar na comunicação. Tentávamos traduzir o gnomo e entender o que havia acontecido, mas ele só dizia que a camareira o havia agredido e que exigia que ela fosse demitida. Ao ser questionado do porquê da agressão, ele disse que ao passar entre a cama e a camareira, havia tocado de leve no seu corpo acidentalmente, inocentemente. Isso foi motivo? Qual é... esta camareira é louca!

Traduzíamos as palavras do francês e a gerente nem tinha tempo de falar, pois o gnomo estava totalmente alterado, injustiçado, agredido e com seu orgulho ferido... quase com lágrimas nos olhos azuis esbugalhados.

De repente a gerente geral fechou a cara, aproximou-se do francês e com o dedo indicador em riste disse:

- Vou falar em bom português: o senhor suba, arrume suas malas e FORA DAQUI! JÁ!

O gnomo pareceu entender a ordem e, com alguns pequenos passos para trás, foi se encolhendo, fazendo biquinho, sobrancelhas de Capitu (olhos oblíquos e dissimulados) e foi saindo da sala pedindo pardon, pardon, pardon...

A Gerente Geral ligou para a governança e pediu para falar com a camareira do andar. Célia desceu e contou o que havia ocorrido. Jean Pierre subiu, arrumou as malas, passou pela recepção, pagou suas contas e foi-se... para todo lo siempre...

Meses depois a governanta do hotel formou-se na faculdade e voltou na segunda-feira cheia de novidades. O baile de formatura havia sido um sucesso... a banda foi perfeita... E PASMEM: o gnomo tocava na banda e, durante uma música e outra contava piadas ao público... EM BOM PORTUGUÊS! O maldito gnomo falava até gírias... e no hotel só falava francês, né? Safado, ordinário.

Camareiras, sigam o exemplo da Célia mas façam melhor: ao receber um abraço de um hóspede por trás, faça manha, vire-se de frente, faça um carinho no rosto do safado e levante o joelho com violência no meio das pernas do tarado. Isto lhe dará tempo para correr e se livrar do possível estupro. Mas se rolar um clima legal, marque algo fora do hotel, pois lembre-se que o seu tempo dentro do apartamento é cronometrado... não perca seu emprego por uma aventura. O hotel sempre estará ao seu lado em caso de tentativa de abuso sexual.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Influência negativa...


No mesmo hotel, em Maceió, da camareira química, uma outra camareira altamente influenciável pelas experiências bem sucedidas de sua colega na arte de facilitar o trabalho de todas as camareiras do mundo, tentou uma nova experiência. Sim, meus amigos, mas desta vez ela não seria burra como a outra e não se atreveria a fazer misturas milagrosas.

Num belo dia de sol (o que, como disse antes, não é raro em Maceió), a camareira iniciou seu trabalho de limpeza dos apartamentos. Sabia exatamente o apartamento que faria sua experiência, a experiência que salvaria todas as camareiras do mundo de ter que ficar esfregando, esfregando e esfregando os rejuntes dos azulejos com água santitária, até ficarem branquinhos, como a pele da Branca de Neve.

Dirigindo seu carrinho à toda velocidade pelos corredores de apartamentos, a camareira (cujo nome também não me recordo), estacionou-o à porta do apartamento, como sempre deve ser feito: rodinhas travadas, impedindo o acesso de qualquer pessoa ao apartamento enquanto a porta ficasse aberta. Detalhe: uma camareira JAMAIS deve ficar no apartamento, ocupado ou vago, com a porta fechada.

De posse de suas garrafinhas, cheias de produtos químicos de limpeza, a camareira iniciou seu experimento: borrifou o produto de limpeza de louças sanitárias, aquele mesmo, forte, cheiro ácido (se tem cheiro ácido é porque é ácido, oras bolas) em TODOS os rejuntes de azulejos do banheiro, principalmente naqueles mais escuros e manchados com o bolor característico.

Sorrindo de satisfação (imagino que tenha sido assim), voltou-se para a cama e começou a limpeza tradicional - retira lençóis, coloca no carrinho, retira fronhas, coloca no carrinho, retira lixo dos cestos, coloca no carrinho... enquanto o produto fazia efeito nos rejuntes do banheiro.

Após um certo tempo se dedicando à arrumação da cama, a camareira escutou um barulho de louça se quebrando no banheiro. Assustada, correu para ver o que acontecia e deparou-se com a cena mais intrigante de sua vida: os azulejos caíam da parede e espatifavam-se no chão. Logo imagino a camareira, com lágrimas nos olhos, tentando impedi-los de caírem com as mãos, com os pés e enfim com o corpo todo, como nos desenhos animados em que o personagem tenta tapar os buracos de vazamento de água de uma represa.

Ai meu Santo Padim Padi Ciço... e agora?

Eu, no lugar dela, tentaria colar azulejo por azulejo com cola branca (funciona, sabia?), mas ela nem teve tempo de tentar uma solução, pois a Supervisora de Andares já havia escutado a quebradeira quando passava pelo corredor e lá estava para saber o que acontecia no apartamento.

Não houve nem tempo de inventar uma desculpa.

A camareira não foi demitida, mas lá fomos nós, de novo, chamar a empresa fornecedora dos produtos para dar novo treinamento às camareiras.

Depois desta tentativa não houve outras no hotel, ao menos enquanto eu lá trabalhava. Mas com frequência uma camareira voltava à governança reclamando do cheiro do produto e tossindo muito. Mas e a máscara? Por que não usavam? Vai saber... só sei que nunca mais vou pagar pedreiro pra trocar azulejos em casa: pago só pra colocar os novos, pois sei muito bem como tirar os velhos sem trabalho!

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Formada em Química

Camareiras existem em qualquer hotel do mundo, mas uma camareira formada em Química é algo raro. Não sei de qual faculdade é o seu diploma, mas tenho certeza que era uma excelente profissional (camareira, claro).

No hotel de Maceió, utilizávamos alguns produtos de limpeza muito específicos e, dentre eles, um concentrado que somente deve ser utilizado em louças sanitárias, para tirar manchas. Estes produtos eram comprados em galões e distribuídos em garrafas menores para uso individual das camareiras na limpeza dos apartamentos.

Uma certa camareira, cujo nome não me lembro (mas lembro da sua pretensa profissão: química), decidiu que poderia criar um novo produto de limpeza, capaz de remover toda a sujeira dos rejuntes dos azulejos. Este novo invento poderia ser patenteado e finalmente tiraria o "pé da lama". Quem sabe não ganharia o prêmio Nobel de Química? Este novo produto não exigiria o esforço físico de ficar com água sanitária esfregando, esfregando, esfregando com uma escovinha todos os rejuntes de azulejos... bastaria uma aplicação no rejunte e depois todas as manchas sumiriam, como num passe de mágica, bastando enxaguar: um milagre da química moderna.

Pois bem, num certo dia de sol (o que não é raro em Maceió, diga-se de passagem), a camareira aproveitou que sobrara um pouquinho de água sanitária numa garrafinha, e mais uns outros produtos de limpeza em outras garrafinhas e, trancada em seu cafofo, ou seja, a copa de andar, verteu o conteúdo do produto de limpeza de louças sanitárias na garrafinha contendo a água sanitária. Como acontece e todas as mágicas, desde o grande e único mestre Harry Houdini, a mistura começou a fazer fumaça... uma fumaça branca que logo de imediato tomou conta do cafofo, quero dizer, da copa de andar. Percebendo o resultado de sua experiência, a camareira ficou com medo de abrir a porta e ser descoberta por algum funcionário que passasse pelo hall dos elevadores de serviço; abriu a janelinha e começou a abanar a fumaça com um pano de serviço. Mas o esforço físico fez com que ela aspirasse a fumaça maldita... é óbvio que a anta, digo, a camareira começou a passar mal de imediato. Não havia dúvidas, teria que abrir a porta.

Quase desmaiando, e tossindo muito, a camareira chegou à governança, com os olhos inchados, vermelhos e lacrimejantes. A governanta começou a questioná-la sobre o ocorrido, mas ela recusou-se a falar a verdade, inventando uma historinha pra boi dormir: usou o produto num vaso sanitário, mas o cheiro do produto era muito forte e havia deixado ela naquele estado. Sem melhoras no seu quadro, a camareira foi levada ao hospital, de onde não retornou... não naquele dia, pois ficou internada com intoxicação química por ter respirado a fumaça de seu experimento milagroso.

Dias depois, após a camareira química retornar ao trabalho, chamamos a empresa fornecedora dos produtos para dar uma palestra às camareiras, com enfoque especial na segurança exigida no seu manuseio, a obrigatoriedade do uso de luvas de borracha, assim como nos resultados esperados por cada produto em especial.

Muito depois do ocorrido a camareira contou como foi sua experiência. Teve muita sorte de não ter tido queimaduras ou até mesmo um dano maior, como espirrar nos olhos e perder completamente a visão. As demais camareiras a chamaram de louca: como pode? não sabia que não podia misturar? é besta, é? endoideceste, foi?

Mas este não é o único nem o último caso de camareira metida à quimica na face da terra. Acredito que devem existir vários outros exemplos por aí... se você souber, me conte, tá?

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Já está aberta?


Antes de começar a contar esta história, gostaria de alertar para o fato de que a foto acima foi tirada com o único objetivo de ilustrar a página. Era a única moeda européia que tinha em mãos (como comprova a foto), e como a história é sobre um europeu...

Bem, o fato ocorreu no hotel em Salvador, aquele mesmo da "Mulher do 18".

Recebemos um grupo de turistas europeus. Não vou dizer o país para não criar constrangimentos . Fizemos a recepção do grupo da mesma maneira que fazíamos habitualmente, com uma mesa colocada no lobby, um recepcionista para conferir os nomes dos hóspedes no rooming list, entregar o envelope contendo a chave do apartamento e o cartão de identificação, receber as FNRHs preenchidas e assinadas e, caso o hóspede quisesse, entregar os trancões de cofre e colher a respectiva assinatura de anuência aos termos de adesão de uso do cofre.

O check in foi feito com muita tranquilidade. Todos os hóspedes subiram para os quartos e passamos a inserir os dados no sistema.

Depois de cerca de cinco minutos, um dos hóspedes do grupo desceu à recepção e, com o envelope nas mãos, disse à recepcionista:

- A senhorita esqueceu-se de dar-me a chave da porta!

Ao ler as falas do hóspede, peço que puxe da memória um sotaque de qualquer país europeu e apliquem à leitura. Mas escolha o primeiro sotaque que vier a sua mente, certo? Assim fica mais interessante.

A recepcionista, com um leve e gentil sorriso, respondeu ao hóspede:

- A chave do apartamento está dentro do envelope, senhor, junto com o cartão de identificação.

O hóspede abriu o envelope e de lá retirou a chave do apartamento e o cartão de identificação:

- Estás a ver, senhorita? A senhorita deu-me apenas o cartão de identificação e um outro papelito. Cá não está a chave do apartamento, ó pá!

Acontece que a chave dos apartamentos do hotel eram chaves magnéticas, que deveriam ser inseridas numa fenda da maçaneta. Ao apertar levemente a chave contra a maçaneta, a porta se abriria. Tratava-se de um cartão metálico num chaveiro.

A recepcionista, educadamente, informou ao hóspede que a chave do apartamento era justamente o que ele pensava ser o cartão de identificação, e que o tal "papelito" era o cartão de identificação, que deveria ser assinado por ele e apresentado em qualquer lugar do hotel para que pudesse debitar suas despesas na conta do seu apartamento.

O hóspede, um pouco irritado, disse à recepcionista:

- Estás a chamar-me de burro? Acaso não sei o que é uma chave?

- De forma alguma, senhor - disse a recepcionista com a tradicional "paciência de Jó" que todos os recepcionistas de hotel do mundo devem ter. Ao terminar a frase, abaixou-se e pegou um apetrecho debaixo do balcão para demonstrar a abertura da porta. Tratava-se de um pedaço de madeira de cerca de 30 cm de altura, com uma maçaneta de verdade, exatamente igual àquela dos apartamentos. Colocou o apetrecho sobre o balcão da recepção, pegou a chave das mãos do hóspede e inseriu na fenda da maçaneta, demonstrando como deveria ser feito da forma correta, dizendo:

- O senhor pega a chave, coloca nesta fenda da maçaneta, pressiona levemente e pronto: está aberta!

- Está aberta? Posso subir?

Não entendendo muito bem o ocorrido, a recepcionista fez menção de entregar a chave de volta ao hóspede, mas este já estava indo em direção aos elevadores.

- Senhor, senhor... a chave do seu apartamento!

O hóspede apenas olhou para trás e disse:

- Já está aberta, e não posso subir?

- Não, senhor! O senhor deve usar a sua chave na maçaneta da sua porta para abri-la.

Contrariado o hóspede voltou e pegou a chave da mão da recepcionista.

- Mas a senhorita me disse que já estava aberta. Agora me diz que eu tenho que abrir a porta?

- Pois é, senhor... - não houve tempo de terminar a frase, pois o hóspede já estava correndo em direção aos elevadores.

Sabemos que numa comunicação entre estrangeiros, de países diferentes, podem surgir frases imcompreensíveis, mas o estrangeiro em questão falava português, fluentemente, diga-se de passagem. Talvez ele não tenha interpretado bem as falas da recepcionista... sei lá!

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

É tudo meu!

Mortes acontecem em todos os lugares, inclusive em hotéis. Posso afirmar, na minha limitada sabedoria que: “onde há gente viva existe a possibilidade de alguém morrer de repente”.

No flat onde trabalhei em São Paulo moravam várias pessoas como mensalistas do pool hoteleiro e como inquilinos de apartamentos do condomínio. É óbvio que a variedade de profissões era um pouco grande: algumas garotas de programa, profissionais liberais, “teúdas e manteúdas” gente metida à rica mas que sempre atrasava os aluguéis, etc.

Dentre os moradores havia um argentino, sempre muito bem vestido, sempre muito fino, sempre muito galante e sempre muito metido a milionário. Pão-duro, pois não me recordo de ter dado um centavo de gorjeta a quem quer que fosse. Lembro-me que sempre, aos sábados, descia de calça social branca, camisa sempre muito estampada e colorida – de seda, paletó branco com um brasão bordado do lado esquerdo, sapatos brancos e um único taco de golfe: ia jogar golfe. Mas depois descobri que um golfista deve ter uma taqueira completa, com vários tipos de taco, para as mais infinitas possibilidades que se apresentam num jogo. Coitado: aliás, divagando aqui no teclado, coitado pode ser aquele que sofreu, de forma passiva, um coito? Mas então: coitado! Talvez enganasse os recepcionistas ignorantes em matéria de golfe, mas com certeza não enganava a todos.

Vou chamá-lo de Sr. Hadad.

O Sr. Hadad morava no 14º andar como mensalista do pool hoteleiro, e sempre pagou suas contas em dia. Corria entre os funcionários que o Sr. Hadad tinha uma loja de compra de ouro e jóias na região central da cidade de São Paulo. Quem mora em São Paulo conhece muito mais os pobres aposentados que ficam sentados em banquinhos nas ruas e calçadas do centro da cidade, segurando uma placa com os dizeres: Compro ouro - ou algo parecido.

A camareira que limpava o apartamento do Sr. Hadad era uma mocinha agitada, muito engraçada, morena, bonita. Vou chamá-la de Ivonete. Estava sempre rindo e não me recordo de tê-la visto um único dia de mau humor. Exceto depois do caso que passo a relatar.

Um belo dia o Sr. Hadad foi assassinado dentro do seu escritório, na região central de São Paulo. Não se sabe a causa do assassinato, mas sabe-se, pelos jornais da época, que não foi assalto. A comoção no flat foi geral, pois de certa forma todos gostavam do Sr. Hadad. Quem mais se descontrolou foi a camareira Ivonete, que não parava de chorar e soluçar pelos corredores do hotel.

No dia seguinte as camareiras não queriam nem pensar na possibilidade de limpar os apartamentos do 14º andar, nem a Ivonete. Algumas que tentaram desceram correndo, desesperadas, alegando terem isto o Sr. Hadad no andar – não acredito!

Ivonete, depois de dois dias da morte do Sr. Hadad, começou a dizer que tudo o que tinha dentro do cofre do apartamento lhe pertencia, pois o Sr. Hadad sempre lhe falava:

- Netinha, quando eu morrer tudo o que estiver dentro do cofre é seu!

Ivonete tinha certeza que ia tirar o pé da lama, até parou de chorar e passou a ter os olhos mais brilhantes, mais vivos e mais alegres.

Mas alguns procedimentos deveriam ser tomados. Na semana seguinte à morte do Sr. Hadad, sua filha, que morava no litoral de São Paulo, chegou ao hotel para retirar todos os pertences do pai. Imaginem como ficou a Ivonete? Correndo desesperada de lá para cá, dizendo que tudo o que tinha no cofre lhe pertencia, que a filha do Sr. Hadad não poderia abrir o cofre, que ia chamar a polícia, etc, etc, etc... Mas a Gerente Geral não poderia permitir, já que o pobre homem não havia deixado testamento.

Apesar de todos os conselhos da governanta, Ivonete subiu ao apartamento do Sr. Hadad para certificar-se de que o cofre não seria aberto. Como poderia ser aberto se o Sr. Hadad carregava a chave consigo o tempo todo? Mas cadê a chave do cofre?

A Gerente Geral conversava com a filha do Sr. Hadad no apartamento, e esta dizia:

- Meu pai não nos deixou nada. O cofre do escritório só tinha papéis. O apartamento do Guarujá foi financiado, no nome da minha mãe, e ele pagava as prestações mensalmente. Nem a quitação do apartamento será possível; temos que continuar pagando as prestações.

Imagine os olhos da Netinha ao escutar isto. Logo imaginou: está tudo no cofre e é tudo meu!

A Gerente Geral pediu então que Netinha saísse do apartamento. Muito contrariada, mas com os olhos brilhando, Netinha desceu.

Enquanto isso, a Gerente Geral e a filha do Sr. Hadad abriram o cofre do apartamento, já que a chave do cofre foi deixada dentro da gaveta do escritório, e sua filha tinha todos os documentos legais para proceder a posse de todos os possíveis bens, como herdeira legal.

Netinha, lá embaixo, imaginava que a chave do cofre não existia...

Logo depois a Gerente Geral e a filha do Sr. Hadad desceram. Se despediram na recepção do hotel e seguiram cada qual o seu caminho.

Imediatamente Netinha foi à sala da Gerente Geral obter mais informações: e o cofre?

- O cofre estava vazio. Lá estavam apenas o passaporte do Sr. Hadad, documentos pessoais, os documentos do financiamento do apartamento do Guarujá, os recibos de quitação das prestações e mais alguns papéis sem valor.

- Mas e o ouro, os dólares, as jóias? perguntou Netinha.

- Que ouro, Netinha, que ouro? O Sr. Hadad não tinha nada. Estava todo envolvido com agiotas, cheio de dívidas. Que ouro, Netinha? Que dólares? Que jóias?

Netinha, desconsolada e muito desconfiada, caiu em prantos e chorou por mais umas duas semanas. Mas nada tirava da sua cabeça que havia sido enganada: roubaram todo o seu ouro. Repetiu esta história por dias, meses:

- É tudo meu, ele deixou pra mim, prá mim, entendeu?

O Sr. Hadad descansou em paz (será?). Seu fantasma deixou de aparecer no 14º andar – pelo menos as camareiras esqueceram o caso... exceto a Netinha, que deve ainda pensar que foi roubada. Não sabemos a verdade, mas é melhor que tenha sido conforme a Gerente Geral relatou.

Netinha continuou trabalhando no flat por muito tempo ainda. Depois de uns quatro anos, perdi contato com a maioria, mas acredito e torço para que todos estejam muito bem. Deus lhes proteja.

sábado, 17 de janeiro de 2009

Mineral water, please!

Esta história, diferentemente da anterior, foi presenciada por todos os meus colegas da gerência do Meliá Maceió.

Recebemos um grupo de estrangeiros para um congresso internacional de tecnologia, cujo objetivo era discutir o futuro da TV no séc. XXI. Ocuparam 100% dos apartamentos do hotel e, para desespero dos funcionários em geral, apenas um hóspede falava português.

O check in do grupo foi perfeito. Todos os recepcionistas falavam inglês ou outro idioma qualquer, então não tivemos problemas. O evento acontecia paralelamente em outro hotel, o Jatiúca. Muitos hóspedes nossos iam ao Jatiúca para as reuniões e palestras diariamente, assim como vários hóspedes do Jatiúca vinham ao Meliá para seus compromissos profissionais.

A pedido da organização do evento, as refeições foram servidas na forma de buffet, ou seja self service (ou serv-serv como já tive o prazer de ler em algumas placas de restaurantes por aí).

Estávamos então almoçando, na nossa mesa de costume no restaurante. Como tínhamos um caso de overbooking, o almoço tinha que ser rápido enquanto todos o hóspedes estavam também almoçando.

Os hóspedes iam e vinham... uma visão do inferno: já viram estrangeiros diante de tanta fartura de comida, frutas tropicais e frutos do mar? Pois é... você vê cada coisa que não dá pra acreditar. Alguns hóspedes insistiam em trazer à mesa as cascas das lagostas usadas como decoração do buffet, imaginando que lá dentro o bicho ainda tivesse carne... outros pegavam mangas, bananas e até um doido trouxe a melancia, toda esculpida na forma de uma flor pelo pobre do Garde Manger... tanto tempo ele demorou pra fazer, e talvez tivesse a esperança de usá-la para decorar o buffet do jantar naquele mesmo dia... mas este não é tema da história!

Os garçons passeavam pelo salão com seus blocos de comandas para anotarem os pedidos de bebidas. Foi quando aconteceu o inusitado: o garçon aproxima-se de um coreano, ou chinês, ou não sei o quê, afinal todos têm os olhos puxados, né? e pergunta (não se esqueçam de que existe o tal sotaque).

- To drink? (para beber?)

E o coreano(?) responde:

- Oh, please, a mineral water! (Oh, por favor, uma água mineral)

O garçon: - A Coke, senhor? (assim mesmo: senhor!)

P.S. não se esqueçam do sotaque do coreano(?) falando inglês...

O coreano(?): - No, no... a mineral water!

O garçon: - A Coke, senhor?

O coreano(?): - No: a mineral water!

O garçon não se deu por vencido e perguntou: - A Coke, senhor?

O coreano(?), acho que viu que seu inglês não era lá estas coisas e talvez o nosso garçon poliglota não estivesse compreendendo bem, respondeu com um leve suspiro:

- Yes, yes... a Coke!

Quando vimos o que ocorreu, imediatamente colocamos os mensageiros na recepção e transferimos os recepcionistas para o restaurante, para anotarem os pedidos de bebidas. Fizemos isto durante todo o período de hospedagem dos estrangeiros.

Alguns dias depois a Gerente de A&B (Alimentos e Bebidas) foi analisar os relatórios de estatísticas de vendas e surpreendeu-se:

NUNCA, JAMAIS NA HISTÓRIA DO HOTEL, VENDEU-SE TANTA
COCA-COLA NUM ÚNICO DIA!

Carpaccio, señor!

Esta história não vivenciei, mas se estivesse presente teria que ter tomado providências, depois de muito rir:

Este fato foi contado por uma grande amiga que trabalhava no maior concorrente do hotel que trabalhei em Maceió, cidade onde o fato ocorreu.

O espanhol, senta-se à mesa para o jantar. O maître aproxima-se, entrega o cardápio e anota o pedido: carpaccio (lê-se carpátio) - finíssimas fatias de filé mignon cru, colocadas caprichosamente sobre o prato, cobrindo toda a sua superfície, coberto com um delicioso molho à base de alcaparras e muito bem decorado. A apresentação do prato é muito bonita, mas o paladar supera todas as expectativas.

Pouco tempo depois o garçon aproxima-se e, no velho estilo à Francesa apresenta o prato ao cliente e serve-o pelo lado esquerdo. O espanhol olha para o garçon e diz, em seu idioma natal:

- Queso, por favor!

O garçon, com todo o seu sotaque alagoano, responde:

- Carpaccio, senhor!

- No, no, queso por favor!

- Carpaccio, senhor! O senhor não pediu carpaccio? Então, é carpaccio, senhor!

- No, no... quiero queso!

- O senhor pediu carpaccio? Pois bem, aí está o seu carpaccio, senhor!

Um cliente próximo, ao perceber a confusão, aproximou-se do garçon e disse:

- Ele quer queijo... queso, entendeu?

- Ah! Sim, um momento que já vou buscar.

Oras bolas, carpaccio sem um bom queijo parmesão ralado, servido à vontade sobre o prato não é carpaccio. E como é que o garçon não sabia disso?

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Pare, Dona Márcia, senão lhe dou uma sapatada...

Não preciso dizer que os nomes são fictícios.

Trabalhava num flat aqui em São Paulo, meu primeiro emprego na hotelaria. Era recepcionista tournant, ou seja: peão mesmo... cobria folgas de todos os recepcionistas e não tinha horário fixo de trabalho.

Certo fim de semana, quando tudo estava num marasmo digno de "Sorriso do Lagarto", estávamos eu, outra recepcionista de nome Letícia, o mensageiro Leandro e a então telefonista Márcia. Éramos os únicos no Front Office do hotel.

O mensageiro Leandro era evangélico, e sempre dizia que tinha uma namorada de nome muito esquisito e que iria casar-se com ela. Márcia sempre fazia umas perguntas mais ousadas e ele sempre negava terminatemente: jamais uma "mão boba", uns carinhos mais ousados, um beijo mais invasivo ou qualquer outra coisa que a maioria das pessoas faz num namoro normal. Leandro jurava de pés juntos que, tanto ele, quanto sua namorada de nome esquisito eram virgens e que permaneceriam assim até a noite de núpcias. Mas Leandro era também muito "saidinho" e sempre fazia uns elogios chulos, principalmente à Marcia:

- Ow, Dona Márcia, a senhora tá muito gostosa hoje!

ou então...

- Se eu não fosse noivo a senhora não me escapava!

Mas Márcia sempre levou tudo na brincadeira e respondia:

- Ah, Leandro, você não é de nada... nem com aquela coitada da sua noiva você faz alguma coisa, vai querer fazer comigo? Se enxerga...

Mas neste fim de semana Márcia decidiu que iria se vingar de Leandro e elaborou, juntamente com os demais desocupados da recepção, um plano infalível:

  1. Chamaria Leandro para dentro do maleiro (compartimento de bagagens) para pedir a ele que retirasse a bagagem do Dr. Fulano de Tal que estava de volta ao hotel;
  2. Do lado de fora, eu trancaria o maleiro, de forma que o Leandro não tentasse escapar;
  3. Márcia tentaria seduzir Leandro dentro do maleiro.

Perigoso? Todos diriam que sim e que Márcia corria o risco de ser agarrada por Leandro. Mas se vocês o conhecessem perceberiam que não havia nenhum perigo: ele era muito inocente, apesar de seus 21 anos, muito extremista com relação à religião e, com certeza, entraria em pânico (ao menos era o que esperávamos).

Colocamos o plano em ação. Márcia abriu a porta que dava acesso à Recepção e disse numa voz suave:

- Leandro, você pode pegar a bagagem do Sr. Fulano de Tal que ele vai chegar hoje à noite.

- Claro, Dona Márcia! Seu pedido é uma ordem! - solícito este Leandro... como sempre cheio de lero-lero...

Ao entrarem no maleiro, Márcia deixou a chave de fora. Imediatamente fechei a porta e tranquei. Leandro, ao perceber, começou a gritar para abrirmos a porta. Lá dentro, Márcia iniciava seu plano e dizia com "voz de atendente de telesexo":

- Vem Leandro, eu sei que você me deseja... vem que hoje sou toda sua...

- Não Dona Márcia, pelo amor de Deus, não faz isso! Abre a porta... abre a porta - gritava o desesperado Leandro.

Márcia, indo mais além, desamarrou o lenço do pescoço (parte do uniforme) e começou a abrir os botões da blusa. Leandro entrou em pânico e gritava:

- Pare, Dona Márcia, não faz isso não... Abre a porta, por favor, abre a porta...

- Vem Leandro, eu sei que você me deseja e eu te desejo também... estamos sozinhos aqui... ninguém vai nos incomodar....

Neste momento, Leandro tenta arrombar a porta do maleiro, mas cai no chão. Indefeso, retira o sapato, levanta-se e grita:

- Pare, Dona Márcia, senão lhe dou uma sapatada!

Neste momento a gargalhada foi geral. Já estavam na porta do maleiro escutando o show: eu, a outra recepcionista, uma camareira, a mocinha da lavanderia e um rapaz da manutenção. Antes que Leandro realmente desse uma sapatada em Dona Márcia, abri a porta, e Leandro saiu correndo feito um louco em direção ao vestiário. Márcia estava sentada no chão, no canto do maleiro às gargalhadas, chorando de tanto rir.

Leandro desapareceu. Fomos vê-lo somente no dia seguinte, sério, compenetrado, sisudo. A partir deste dia as brincadeiras com Dona Márcia acabaram-se.

Márcia (este não é seu nome) ainda trabalha na hotelaria. Encontrei-me com ela várias vezes depois que voltei de vez para São Paulo, e lecionávamos no SENAC da Francisco Matarazzo. Relembramos esta história várias vezes e também é uma que faz parte do nosso repertório.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

A mulher do 18 - parte II

Havíamos recebido a comitiva de Portugal para as comemorações dos 500 anos do Brasil. Reservamos para a comitiva os apartamentos dos andares 16 a 24, inclusive a suíte presidencial. Para facilitar o trabalho de check in, montamos uma recepção em cada andar, onde um(a) recepcionista faria a entrega de chaves e colheria os documentos necessários à efetivação do check in. Este dia foi uma correria danada, mas terminou com tudo perfeito, exceto pela mulher do 18...
Após todos os check in terem sido feitos, eu a Chefe de Recepção subimos para recolher os documentos que sobraram e fechar as gavetas das mesas que seriam recolhidas pelo pessoal da governança. Pegamos o elevador e subimos até o 16, recolhemos tudo, checamos tudo e subimos de escada para o 17, onde repetimos tudo novamente. Subimos novamente de escada para o 18, recolhemos tudo, fechamos as gavetas e então a Chefe de Recepção me disse:
- Estamos sob forte influência dos hóspedes do andar... por que não subimos ao 24 e vamos descendo as escadas? Melhor que ficar subindo, certo?
Concordei plenamente. Apertamos o botão do elevador e ficamos olhando o Farol da Barra distante, brilhando na noite soteropolitana. O hotel tinha duas vidraças do teto ao chão no hall dos elevadores, com uma barra de proteção a cerca de um metro de altura do chão. Uma vidraça com vista para o Farol da Barra e a outra, do lado oposto, para o Farol de Itapuã.
- Moramos numa cidade abençoada – disse e Chefe de Recepção, admirando a beleza da noite, observação que concordei plenamente.
Neste momento senti um frio na espinha e só escutei a seguinte frase vindo da Chefe de Recepção:
- Ela está aqui.
Olhando pelo reflexo da vidraça, percebia-se claramente uma mulher parada à porta do elevador. Uma mulher normal, de vestido claro. Não era loira, nem deu tempo pra ver tantos detalhes, mas eu só respondi:
- Vamos sair daqui!
Ao me virar para correr para o hall dos elevadores de serviço, onde ficavam as escadas, vi que não havia ninguém à porta do elevador. Tanto pior, pois ficamos apavorados e corremos para o 19 feito loucos.
No 19 nos sentíamos protegidos. Sentamo-nos no chão e ficamos ofegantes, um olhando para a cara do outro, sem tecer nenhum comentário. Pensamos em subir até o 24 pela escada, mas seria demais. Parados à frente do elevador no 19º andar, depois de termos recolhido tudo e fechado as gavetas da mesa, ficávamos apenas torcendo para que não houvesse uma mulher de vestido claro dentro do elevador quando a porta se abrisse. É óbvio que isto não aconteceu.
Terminamos nossa tarefa, descemos para a Recepção e fizemos todos os check in no sistema. Demoramos muito para contar esta experiência aos demais, mas é sempre uma das nossas histórias prediletas quando me encontro com todos em minhas viagens a Salvador.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

A mulher do 18 - parte I

Caí na besteira de contar esta história em sala de aula e, depois da primeira vez, sou obrigado a repeti-la a todas as outras turmas, pois os alunos mais antigos vão falando para os novos:
- Fala pro Maniçoba contar a história da mulher do 18.
Então vou contá-la aqui.
Os fatos abaixo relatados são minha experiência pessoal. Por razões óbvias vou omitir nomes. Vários funcionários do hotel tiveram "contatos imediatos" com a "mulher do 18" porém em diferentes graus. Alguns hóspedes também tiveram suas experiências.
Quando assumi o cargo de Gerente de Recepção deste hotel, fui alertado pela Chefe de Recepção sobre alguns detalhes e, entre estes, havia o caso do telefone. Ela me disse assim:
- Se o telefone tocar e no visor de cristal líquido aparecer apenas o número do apartamento, e este for qualquer apartamento vago do 18º andar, nem adianta atender, pois não tem ninguém do outro lado. É a mulher do 18 brincando com a gente.
Isto acontecia várias vezes ao dia, e os recepcionistas simplesmente tiravam o telefone do gancho e desligavam imediatamente. Muitas vezes atendi ao telefone por distração, mas havia do outro lado apenas um barulho de TV fora do ar. Segundo informações de vários funcionários, inclusive dos mais antigos, esta mulher sempre esteve presente no 18º andar, e ninguém se lembra de ter havido suicídio ou morte neste andar. Nosso Gerente Geral inclusive já havia chamado um padre para benzer o hotel, pai de santo, médiuns espíritas, mas nunca alguém conseguiu resolver o problema.
Numa certa sexta-feira, fui embora pra casa depois do almoço, pois estaria de plantão no hotel o fim de semana inteiro. Voltei para o hotel por volta de 18h, deixei minha bagagem na recepção e pedi para fazerem o check in em qualquer apartamento e que o mensageiro levasse minha bagagem que depois pegaria a chave.
Desci para ver o jantar no restaurante, fui à boate ver os preparativos para a abertura, abri o almoxarifado para o cozinheiro e mais um monte de coisas. Por volta de 1h30 da madrugada, passei pela recepção e conversei com o Gerente Noturno e com os auditores. Peguei a chave do apartamento e subi para descansar um pouquinho, já que lá pelas 4h30 deveria descer para acompanhar o fechamento da boate e a mise em place do café da manhã.
Entrei no apartamento, liguei a TV e fui escovar os dentes. Voltei para o quarto, tirei os sapatos e o paletó e deitei-me na cama de roupa, pois qualquer urgência no hotel me chamariam. Comecei a assistir um programa qualquer de TV à cabo e, de repente, o quarto foi inundado por um cheiro insuportável de perfume, algo como Channel nº 5 ou Café, doce, exagerado, anacrônico!
- Mas será que algum idiota jogou perfume na Central de Ar Condicionado? – pensei imediatamente.
Mas logo de imediato, olhando para o aparelho de ar condicionado do quarto percebi que não seria este o motivo.
Levantei-me e fui em direção ao corredor de apartamentos, pois alguma hóspede poderia ter passado pelo corredor e, coitadinha, exagerou na dose de perfume. Abri a porta do apartamento, olhei para os dois lados do corredor e não vi ninguém. O mais incrível era que o cheiro era dentro do meu apartamento e fora dele não se sentia nada.
Fechei a porta e, voltando para o quarto, percebi a porta do banheiro fechada, com a luz acesa. Ué! Nunca fecho a porta do banheiro? Aí senti os cabelos da nuca ficarem arrepiados, assim como os pelos dos braços.
Abri a porta lentamente, tentando ver, pelo reflexo do espelho, o que estaria lá dentro, mas sem resultado. Estranho foi ver a cortina do box fechada. Parecia cena de filme tipo “Psicose”, mas abri a cortina do box com violência e... NADA.
Saí do banheiro ainda todo arrepiado e voltei para o quarto. A TV continuava ligada, no mesmo canal, e o cheiro de perfume havia desaparecido. Nesta hora só pensei numa coisa:
- Eu vou é sair daqui!
Calcei os sapatos com pressa, vesti o paletó e desci para perambular pelo hotel. Voltei só depois do dia raiar e, por via das dúvidas, dormi com a TV ligada.
No dia seguinte, ao contar a história para a Chefe de Recepção, ela simplesmente me disse:
- Ela foi te visitar!
Não é preciso dizer que fiquei muito curioso em saber mais sobre o assunto.
Hoje penso como fui idiota: poderia ter pedido para trocar de apartamento, num outro andar!

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Só para matar a curiosidade: MANIÇOBA? QUE RAIO DE SOBRENOME É ESTE?

Pois é... por muito tempo achei um sobrenome esquisito também... depois descobri que era o nome de um prato típico nordestino e paraense, feito com as folhas da mandioca brava. Porém, a internet me possibilitou descobrir familiares pelo Brasil afora e até encontrei a árvore genealógica da família desde o século XVI, quando alguns portugueses, com sobrenome Gomes de Sá, desembarcaram no Brasil.

Acontece que meus antepassados sempre viveram em Floresta do Navio ou Floresta de Pageú, atual município de Floresta, no sertão pernambucano. Mas, por motivos pouco conhecidos - alguns historiadores dizem que por perseguição política, um antepassado registrou toda sua prole com os sobrenomes Pereira e Maniçoba. Isto ocorreu em meados de 1800. De lá para cá a família Maniçoba proliferou... mas ainda tenho muitos parentes com sobrenome Gomes de Sá, como minha avó e bisavó.

O que importa é que agora tenho subsídios para encarar os engraçadinhos de plantão, que insistem em fazer piadinhas com meu sobrenome e antecipo: gosto muito do sobrenome Maniçoba, tenho muito orgulho de ser Maniçoba e todos os Maniçoba são "gente boa".