quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Já está aberta?


Antes de começar a contar esta história, gostaria de alertar para o fato de que a foto acima foi tirada com o único objetivo de ilustrar a página. Era a única moeda européia que tinha em mãos (como comprova a foto), e como a história é sobre um europeu...

Bem, o fato ocorreu no hotel em Salvador, aquele mesmo da "Mulher do 18".

Recebemos um grupo de turistas europeus. Não vou dizer o país para não criar constrangimentos . Fizemos a recepção do grupo da mesma maneira que fazíamos habitualmente, com uma mesa colocada no lobby, um recepcionista para conferir os nomes dos hóspedes no rooming list, entregar o envelope contendo a chave do apartamento e o cartão de identificação, receber as FNRHs preenchidas e assinadas e, caso o hóspede quisesse, entregar os trancões de cofre e colher a respectiva assinatura de anuência aos termos de adesão de uso do cofre.

O check in foi feito com muita tranquilidade. Todos os hóspedes subiram para os quartos e passamos a inserir os dados no sistema.

Depois de cerca de cinco minutos, um dos hóspedes do grupo desceu à recepção e, com o envelope nas mãos, disse à recepcionista:

- A senhorita esqueceu-se de dar-me a chave da porta!

Ao ler as falas do hóspede, peço que puxe da memória um sotaque de qualquer país europeu e apliquem à leitura. Mas escolha o primeiro sotaque que vier a sua mente, certo? Assim fica mais interessante.

A recepcionista, com um leve e gentil sorriso, respondeu ao hóspede:

- A chave do apartamento está dentro do envelope, senhor, junto com o cartão de identificação.

O hóspede abriu o envelope e de lá retirou a chave do apartamento e o cartão de identificação:

- Estás a ver, senhorita? A senhorita deu-me apenas o cartão de identificação e um outro papelito. Cá não está a chave do apartamento, ó pá!

Acontece que a chave dos apartamentos do hotel eram chaves magnéticas, que deveriam ser inseridas numa fenda da maçaneta. Ao apertar levemente a chave contra a maçaneta, a porta se abriria. Tratava-se de um cartão metálico num chaveiro.

A recepcionista, educadamente, informou ao hóspede que a chave do apartamento era justamente o que ele pensava ser o cartão de identificação, e que o tal "papelito" era o cartão de identificação, que deveria ser assinado por ele e apresentado em qualquer lugar do hotel para que pudesse debitar suas despesas na conta do seu apartamento.

O hóspede, um pouco irritado, disse à recepcionista:

- Estás a chamar-me de burro? Acaso não sei o que é uma chave?

- De forma alguma, senhor - disse a recepcionista com a tradicional "paciência de Jó" que todos os recepcionistas de hotel do mundo devem ter. Ao terminar a frase, abaixou-se e pegou um apetrecho debaixo do balcão para demonstrar a abertura da porta. Tratava-se de um pedaço de madeira de cerca de 30 cm de altura, com uma maçaneta de verdade, exatamente igual àquela dos apartamentos. Colocou o apetrecho sobre o balcão da recepção, pegou a chave das mãos do hóspede e inseriu na fenda da maçaneta, demonstrando como deveria ser feito da forma correta, dizendo:

- O senhor pega a chave, coloca nesta fenda da maçaneta, pressiona levemente e pronto: está aberta!

- Está aberta? Posso subir?

Não entendendo muito bem o ocorrido, a recepcionista fez menção de entregar a chave de volta ao hóspede, mas este já estava indo em direção aos elevadores.

- Senhor, senhor... a chave do seu apartamento!

O hóspede apenas olhou para trás e disse:

- Já está aberta, e não posso subir?

- Não, senhor! O senhor deve usar a sua chave na maçaneta da sua porta para abri-la.

Contrariado o hóspede voltou e pegou a chave da mão da recepcionista.

- Mas a senhorita me disse que já estava aberta. Agora me diz que eu tenho que abrir a porta?

- Pois é, senhor... - não houve tempo de terminar a frase, pois o hóspede já estava correndo em direção aos elevadores.

Sabemos que numa comunicação entre estrangeiros, de países diferentes, podem surgir frases imcompreensíveis, mas o estrangeiro em questão falava português, fluentemente, diga-se de passagem. Talvez ele não tenha interpretado bem as falas da recepcionista... sei lá!

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

É tudo meu!

Mortes acontecem em todos os lugares, inclusive em hotéis. Posso afirmar, na minha limitada sabedoria que: “onde há gente viva existe a possibilidade de alguém morrer de repente”.

No flat onde trabalhei em São Paulo moravam várias pessoas como mensalistas do pool hoteleiro e como inquilinos de apartamentos do condomínio. É óbvio que a variedade de profissões era um pouco grande: algumas garotas de programa, profissionais liberais, “teúdas e manteúdas” gente metida à rica mas que sempre atrasava os aluguéis, etc.

Dentre os moradores havia um argentino, sempre muito bem vestido, sempre muito fino, sempre muito galante e sempre muito metido a milionário. Pão-duro, pois não me recordo de ter dado um centavo de gorjeta a quem quer que fosse. Lembro-me que sempre, aos sábados, descia de calça social branca, camisa sempre muito estampada e colorida – de seda, paletó branco com um brasão bordado do lado esquerdo, sapatos brancos e um único taco de golfe: ia jogar golfe. Mas depois descobri que um golfista deve ter uma taqueira completa, com vários tipos de taco, para as mais infinitas possibilidades que se apresentam num jogo. Coitado: aliás, divagando aqui no teclado, coitado pode ser aquele que sofreu, de forma passiva, um coito? Mas então: coitado! Talvez enganasse os recepcionistas ignorantes em matéria de golfe, mas com certeza não enganava a todos.

Vou chamá-lo de Sr. Hadad.

O Sr. Hadad morava no 14º andar como mensalista do pool hoteleiro, e sempre pagou suas contas em dia. Corria entre os funcionários que o Sr. Hadad tinha uma loja de compra de ouro e jóias na região central da cidade de São Paulo. Quem mora em São Paulo conhece muito mais os pobres aposentados que ficam sentados em banquinhos nas ruas e calçadas do centro da cidade, segurando uma placa com os dizeres: Compro ouro - ou algo parecido.

A camareira que limpava o apartamento do Sr. Hadad era uma mocinha agitada, muito engraçada, morena, bonita. Vou chamá-la de Ivonete. Estava sempre rindo e não me recordo de tê-la visto um único dia de mau humor. Exceto depois do caso que passo a relatar.

Um belo dia o Sr. Hadad foi assassinado dentro do seu escritório, na região central de São Paulo. Não se sabe a causa do assassinato, mas sabe-se, pelos jornais da época, que não foi assalto. A comoção no flat foi geral, pois de certa forma todos gostavam do Sr. Hadad. Quem mais se descontrolou foi a camareira Ivonete, que não parava de chorar e soluçar pelos corredores do hotel.

No dia seguinte as camareiras não queriam nem pensar na possibilidade de limpar os apartamentos do 14º andar, nem a Ivonete. Algumas que tentaram desceram correndo, desesperadas, alegando terem isto o Sr. Hadad no andar – não acredito!

Ivonete, depois de dois dias da morte do Sr. Hadad, começou a dizer que tudo o que tinha dentro do cofre do apartamento lhe pertencia, pois o Sr. Hadad sempre lhe falava:

- Netinha, quando eu morrer tudo o que estiver dentro do cofre é seu!

Ivonete tinha certeza que ia tirar o pé da lama, até parou de chorar e passou a ter os olhos mais brilhantes, mais vivos e mais alegres.

Mas alguns procedimentos deveriam ser tomados. Na semana seguinte à morte do Sr. Hadad, sua filha, que morava no litoral de São Paulo, chegou ao hotel para retirar todos os pertences do pai. Imaginem como ficou a Ivonete? Correndo desesperada de lá para cá, dizendo que tudo o que tinha no cofre lhe pertencia, que a filha do Sr. Hadad não poderia abrir o cofre, que ia chamar a polícia, etc, etc, etc... Mas a Gerente Geral não poderia permitir, já que o pobre homem não havia deixado testamento.

Apesar de todos os conselhos da governanta, Ivonete subiu ao apartamento do Sr. Hadad para certificar-se de que o cofre não seria aberto. Como poderia ser aberto se o Sr. Hadad carregava a chave consigo o tempo todo? Mas cadê a chave do cofre?

A Gerente Geral conversava com a filha do Sr. Hadad no apartamento, e esta dizia:

- Meu pai não nos deixou nada. O cofre do escritório só tinha papéis. O apartamento do Guarujá foi financiado, no nome da minha mãe, e ele pagava as prestações mensalmente. Nem a quitação do apartamento será possível; temos que continuar pagando as prestações.

Imagine os olhos da Netinha ao escutar isto. Logo imaginou: está tudo no cofre e é tudo meu!

A Gerente Geral pediu então que Netinha saísse do apartamento. Muito contrariada, mas com os olhos brilhando, Netinha desceu.

Enquanto isso, a Gerente Geral e a filha do Sr. Hadad abriram o cofre do apartamento, já que a chave do cofre foi deixada dentro da gaveta do escritório, e sua filha tinha todos os documentos legais para proceder a posse de todos os possíveis bens, como herdeira legal.

Netinha, lá embaixo, imaginava que a chave do cofre não existia...

Logo depois a Gerente Geral e a filha do Sr. Hadad desceram. Se despediram na recepção do hotel e seguiram cada qual o seu caminho.

Imediatamente Netinha foi à sala da Gerente Geral obter mais informações: e o cofre?

- O cofre estava vazio. Lá estavam apenas o passaporte do Sr. Hadad, documentos pessoais, os documentos do financiamento do apartamento do Guarujá, os recibos de quitação das prestações e mais alguns papéis sem valor.

- Mas e o ouro, os dólares, as jóias? perguntou Netinha.

- Que ouro, Netinha, que ouro? O Sr. Hadad não tinha nada. Estava todo envolvido com agiotas, cheio de dívidas. Que ouro, Netinha? Que dólares? Que jóias?

Netinha, desconsolada e muito desconfiada, caiu em prantos e chorou por mais umas duas semanas. Mas nada tirava da sua cabeça que havia sido enganada: roubaram todo o seu ouro. Repetiu esta história por dias, meses:

- É tudo meu, ele deixou pra mim, prá mim, entendeu?

O Sr. Hadad descansou em paz (será?). Seu fantasma deixou de aparecer no 14º andar – pelo menos as camareiras esqueceram o caso... exceto a Netinha, que deve ainda pensar que foi roubada. Não sabemos a verdade, mas é melhor que tenha sido conforme a Gerente Geral relatou.

Netinha continuou trabalhando no flat por muito tempo ainda. Depois de uns quatro anos, perdi contato com a maioria, mas acredito e torço para que todos estejam muito bem. Deus lhes proteja.

sábado, 17 de janeiro de 2009

Mineral water, please!

Esta história, diferentemente da anterior, foi presenciada por todos os meus colegas da gerência do Meliá Maceió.

Recebemos um grupo de estrangeiros para um congresso internacional de tecnologia, cujo objetivo era discutir o futuro da TV no séc. XXI. Ocuparam 100% dos apartamentos do hotel e, para desespero dos funcionários em geral, apenas um hóspede falava português.

O check in do grupo foi perfeito. Todos os recepcionistas falavam inglês ou outro idioma qualquer, então não tivemos problemas. O evento acontecia paralelamente em outro hotel, o Jatiúca. Muitos hóspedes nossos iam ao Jatiúca para as reuniões e palestras diariamente, assim como vários hóspedes do Jatiúca vinham ao Meliá para seus compromissos profissionais.

A pedido da organização do evento, as refeições foram servidas na forma de buffet, ou seja self service (ou serv-serv como já tive o prazer de ler em algumas placas de restaurantes por aí).

Estávamos então almoçando, na nossa mesa de costume no restaurante. Como tínhamos um caso de overbooking, o almoço tinha que ser rápido enquanto todos o hóspedes estavam também almoçando.

Os hóspedes iam e vinham... uma visão do inferno: já viram estrangeiros diante de tanta fartura de comida, frutas tropicais e frutos do mar? Pois é... você vê cada coisa que não dá pra acreditar. Alguns hóspedes insistiam em trazer à mesa as cascas das lagostas usadas como decoração do buffet, imaginando que lá dentro o bicho ainda tivesse carne... outros pegavam mangas, bananas e até um doido trouxe a melancia, toda esculpida na forma de uma flor pelo pobre do Garde Manger... tanto tempo ele demorou pra fazer, e talvez tivesse a esperança de usá-la para decorar o buffet do jantar naquele mesmo dia... mas este não é tema da história!

Os garçons passeavam pelo salão com seus blocos de comandas para anotarem os pedidos de bebidas. Foi quando aconteceu o inusitado: o garçon aproxima-se de um coreano, ou chinês, ou não sei o quê, afinal todos têm os olhos puxados, né? e pergunta (não se esqueçam de que existe o tal sotaque).

- To drink? (para beber?)

E o coreano(?) responde:

- Oh, please, a mineral water! (Oh, por favor, uma água mineral)

O garçon: - A Coke, senhor? (assim mesmo: senhor!)

P.S. não se esqueçam do sotaque do coreano(?) falando inglês...

O coreano(?): - No, no... a mineral water!

O garçon: - A Coke, senhor?

O coreano(?): - No: a mineral water!

O garçon não se deu por vencido e perguntou: - A Coke, senhor?

O coreano(?), acho que viu que seu inglês não era lá estas coisas e talvez o nosso garçon poliglota não estivesse compreendendo bem, respondeu com um leve suspiro:

- Yes, yes... a Coke!

Quando vimos o que ocorreu, imediatamente colocamos os mensageiros na recepção e transferimos os recepcionistas para o restaurante, para anotarem os pedidos de bebidas. Fizemos isto durante todo o período de hospedagem dos estrangeiros.

Alguns dias depois a Gerente de A&B (Alimentos e Bebidas) foi analisar os relatórios de estatísticas de vendas e surpreendeu-se:

NUNCA, JAMAIS NA HISTÓRIA DO HOTEL, VENDEU-SE TANTA
COCA-COLA NUM ÚNICO DIA!

Carpaccio, señor!

Esta história não vivenciei, mas se estivesse presente teria que ter tomado providências, depois de muito rir:

Este fato foi contado por uma grande amiga que trabalhava no maior concorrente do hotel que trabalhei em Maceió, cidade onde o fato ocorreu.

O espanhol, senta-se à mesa para o jantar. O maître aproxima-se, entrega o cardápio e anota o pedido: carpaccio (lê-se carpátio) - finíssimas fatias de filé mignon cru, colocadas caprichosamente sobre o prato, cobrindo toda a sua superfície, coberto com um delicioso molho à base de alcaparras e muito bem decorado. A apresentação do prato é muito bonita, mas o paladar supera todas as expectativas.

Pouco tempo depois o garçon aproxima-se e, no velho estilo à Francesa apresenta o prato ao cliente e serve-o pelo lado esquerdo. O espanhol olha para o garçon e diz, em seu idioma natal:

- Queso, por favor!

O garçon, com todo o seu sotaque alagoano, responde:

- Carpaccio, senhor!

- No, no, queso por favor!

- Carpaccio, senhor! O senhor não pediu carpaccio? Então, é carpaccio, senhor!

- No, no... quiero queso!

- O senhor pediu carpaccio? Pois bem, aí está o seu carpaccio, senhor!

Um cliente próximo, ao perceber a confusão, aproximou-se do garçon e disse:

- Ele quer queijo... queso, entendeu?

- Ah! Sim, um momento que já vou buscar.

Oras bolas, carpaccio sem um bom queijo parmesão ralado, servido à vontade sobre o prato não é carpaccio. E como é que o garçon não sabia disso?

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Pare, Dona Márcia, senão lhe dou uma sapatada...

Não preciso dizer que os nomes são fictícios.

Trabalhava num flat aqui em São Paulo, meu primeiro emprego na hotelaria. Era recepcionista tournant, ou seja: peão mesmo... cobria folgas de todos os recepcionistas e não tinha horário fixo de trabalho.

Certo fim de semana, quando tudo estava num marasmo digno de "Sorriso do Lagarto", estávamos eu, outra recepcionista de nome Letícia, o mensageiro Leandro e a então telefonista Márcia. Éramos os únicos no Front Office do hotel.

O mensageiro Leandro era evangélico, e sempre dizia que tinha uma namorada de nome muito esquisito e que iria casar-se com ela. Márcia sempre fazia umas perguntas mais ousadas e ele sempre negava terminatemente: jamais uma "mão boba", uns carinhos mais ousados, um beijo mais invasivo ou qualquer outra coisa que a maioria das pessoas faz num namoro normal. Leandro jurava de pés juntos que, tanto ele, quanto sua namorada de nome esquisito eram virgens e que permaneceriam assim até a noite de núpcias. Mas Leandro era também muito "saidinho" e sempre fazia uns elogios chulos, principalmente à Marcia:

- Ow, Dona Márcia, a senhora tá muito gostosa hoje!

ou então...

- Se eu não fosse noivo a senhora não me escapava!

Mas Márcia sempre levou tudo na brincadeira e respondia:

- Ah, Leandro, você não é de nada... nem com aquela coitada da sua noiva você faz alguma coisa, vai querer fazer comigo? Se enxerga...

Mas neste fim de semana Márcia decidiu que iria se vingar de Leandro e elaborou, juntamente com os demais desocupados da recepção, um plano infalível:

  1. Chamaria Leandro para dentro do maleiro (compartimento de bagagens) para pedir a ele que retirasse a bagagem do Dr. Fulano de Tal que estava de volta ao hotel;
  2. Do lado de fora, eu trancaria o maleiro, de forma que o Leandro não tentasse escapar;
  3. Márcia tentaria seduzir Leandro dentro do maleiro.

Perigoso? Todos diriam que sim e que Márcia corria o risco de ser agarrada por Leandro. Mas se vocês o conhecessem perceberiam que não havia nenhum perigo: ele era muito inocente, apesar de seus 21 anos, muito extremista com relação à religião e, com certeza, entraria em pânico (ao menos era o que esperávamos).

Colocamos o plano em ação. Márcia abriu a porta que dava acesso à Recepção e disse numa voz suave:

- Leandro, você pode pegar a bagagem do Sr. Fulano de Tal que ele vai chegar hoje à noite.

- Claro, Dona Márcia! Seu pedido é uma ordem! - solícito este Leandro... como sempre cheio de lero-lero...

Ao entrarem no maleiro, Márcia deixou a chave de fora. Imediatamente fechei a porta e tranquei. Leandro, ao perceber, começou a gritar para abrirmos a porta. Lá dentro, Márcia iniciava seu plano e dizia com "voz de atendente de telesexo":

- Vem Leandro, eu sei que você me deseja... vem que hoje sou toda sua...

- Não Dona Márcia, pelo amor de Deus, não faz isso! Abre a porta... abre a porta - gritava o desesperado Leandro.

Márcia, indo mais além, desamarrou o lenço do pescoço (parte do uniforme) e começou a abrir os botões da blusa. Leandro entrou em pânico e gritava:

- Pare, Dona Márcia, não faz isso não... Abre a porta, por favor, abre a porta...

- Vem Leandro, eu sei que você me deseja e eu te desejo também... estamos sozinhos aqui... ninguém vai nos incomodar....

Neste momento, Leandro tenta arrombar a porta do maleiro, mas cai no chão. Indefeso, retira o sapato, levanta-se e grita:

- Pare, Dona Márcia, senão lhe dou uma sapatada!

Neste momento a gargalhada foi geral. Já estavam na porta do maleiro escutando o show: eu, a outra recepcionista, uma camareira, a mocinha da lavanderia e um rapaz da manutenção. Antes que Leandro realmente desse uma sapatada em Dona Márcia, abri a porta, e Leandro saiu correndo feito um louco em direção ao vestiário. Márcia estava sentada no chão, no canto do maleiro às gargalhadas, chorando de tanto rir.

Leandro desapareceu. Fomos vê-lo somente no dia seguinte, sério, compenetrado, sisudo. A partir deste dia as brincadeiras com Dona Márcia acabaram-se.

Márcia (este não é seu nome) ainda trabalha na hotelaria. Encontrei-me com ela várias vezes depois que voltei de vez para São Paulo, e lecionávamos no SENAC da Francisco Matarazzo. Relembramos esta história várias vezes e também é uma que faz parte do nosso repertório.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

A mulher do 18 - parte II

Havíamos recebido a comitiva de Portugal para as comemorações dos 500 anos do Brasil. Reservamos para a comitiva os apartamentos dos andares 16 a 24, inclusive a suíte presidencial. Para facilitar o trabalho de check in, montamos uma recepção em cada andar, onde um(a) recepcionista faria a entrega de chaves e colheria os documentos necessários à efetivação do check in. Este dia foi uma correria danada, mas terminou com tudo perfeito, exceto pela mulher do 18...
Após todos os check in terem sido feitos, eu a Chefe de Recepção subimos para recolher os documentos que sobraram e fechar as gavetas das mesas que seriam recolhidas pelo pessoal da governança. Pegamos o elevador e subimos até o 16, recolhemos tudo, checamos tudo e subimos de escada para o 17, onde repetimos tudo novamente. Subimos novamente de escada para o 18, recolhemos tudo, fechamos as gavetas e então a Chefe de Recepção me disse:
- Estamos sob forte influência dos hóspedes do andar... por que não subimos ao 24 e vamos descendo as escadas? Melhor que ficar subindo, certo?
Concordei plenamente. Apertamos o botão do elevador e ficamos olhando o Farol da Barra distante, brilhando na noite soteropolitana. O hotel tinha duas vidraças do teto ao chão no hall dos elevadores, com uma barra de proteção a cerca de um metro de altura do chão. Uma vidraça com vista para o Farol da Barra e a outra, do lado oposto, para o Farol de Itapuã.
- Moramos numa cidade abençoada – disse e Chefe de Recepção, admirando a beleza da noite, observação que concordei plenamente.
Neste momento senti um frio na espinha e só escutei a seguinte frase vindo da Chefe de Recepção:
- Ela está aqui.
Olhando pelo reflexo da vidraça, percebia-se claramente uma mulher parada à porta do elevador. Uma mulher normal, de vestido claro. Não era loira, nem deu tempo pra ver tantos detalhes, mas eu só respondi:
- Vamos sair daqui!
Ao me virar para correr para o hall dos elevadores de serviço, onde ficavam as escadas, vi que não havia ninguém à porta do elevador. Tanto pior, pois ficamos apavorados e corremos para o 19 feito loucos.
No 19 nos sentíamos protegidos. Sentamo-nos no chão e ficamos ofegantes, um olhando para a cara do outro, sem tecer nenhum comentário. Pensamos em subir até o 24 pela escada, mas seria demais. Parados à frente do elevador no 19º andar, depois de termos recolhido tudo e fechado as gavetas da mesa, ficávamos apenas torcendo para que não houvesse uma mulher de vestido claro dentro do elevador quando a porta se abrisse. É óbvio que isto não aconteceu.
Terminamos nossa tarefa, descemos para a Recepção e fizemos todos os check in no sistema. Demoramos muito para contar esta experiência aos demais, mas é sempre uma das nossas histórias prediletas quando me encontro com todos em minhas viagens a Salvador.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

A mulher do 18 - parte I

Caí na besteira de contar esta história em sala de aula e, depois da primeira vez, sou obrigado a repeti-la a todas as outras turmas, pois os alunos mais antigos vão falando para os novos:
- Fala pro Maniçoba contar a história da mulher do 18.
Então vou contá-la aqui.
Os fatos abaixo relatados são minha experiência pessoal. Por razões óbvias vou omitir nomes. Vários funcionários do hotel tiveram "contatos imediatos" com a "mulher do 18" porém em diferentes graus. Alguns hóspedes também tiveram suas experiências.
Quando assumi o cargo de Gerente de Recepção deste hotel, fui alertado pela Chefe de Recepção sobre alguns detalhes e, entre estes, havia o caso do telefone. Ela me disse assim:
- Se o telefone tocar e no visor de cristal líquido aparecer apenas o número do apartamento, e este for qualquer apartamento vago do 18º andar, nem adianta atender, pois não tem ninguém do outro lado. É a mulher do 18 brincando com a gente.
Isto acontecia várias vezes ao dia, e os recepcionistas simplesmente tiravam o telefone do gancho e desligavam imediatamente. Muitas vezes atendi ao telefone por distração, mas havia do outro lado apenas um barulho de TV fora do ar. Segundo informações de vários funcionários, inclusive dos mais antigos, esta mulher sempre esteve presente no 18º andar, e ninguém se lembra de ter havido suicídio ou morte neste andar. Nosso Gerente Geral inclusive já havia chamado um padre para benzer o hotel, pai de santo, médiuns espíritas, mas nunca alguém conseguiu resolver o problema.
Numa certa sexta-feira, fui embora pra casa depois do almoço, pois estaria de plantão no hotel o fim de semana inteiro. Voltei para o hotel por volta de 18h, deixei minha bagagem na recepção e pedi para fazerem o check in em qualquer apartamento e que o mensageiro levasse minha bagagem que depois pegaria a chave.
Desci para ver o jantar no restaurante, fui à boate ver os preparativos para a abertura, abri o almoxarifado para o cozinheiro e mais um monte de coisas. Por volta de 1h30 da madrugada, passei pela recepção e conversei com o Gerente Noturno e com os auditores. Peguei a chave do apartamento e subi para descansar um pouquinho, já que lá pelas 4h30 deveria descer para acompanhar o fechamento da boate e a mise em place do café da manhã.
Entrei no apartamento, liguei a TV e fui escovar os dentes. Voltei para o quarto, tirei os sapatos e o paletó e deitei-me na cama de roupa, pois qualquer urgência no hotel me chamariam. Comecei a assistir um programa qualquer de TV à cabo e, de repente, o quarto foi inundado por um cheiro insuportável de perfume, algo como Channel nº 5 ou Café, doce, exagerado, anacrônico!
- Mas será que algum idiota jogou perfume na Central de Ar Condicionado? – pensei imediatamente.
Mas logo de imediato, olhando para o aparelho de ar condicionado do quarto percebi que não seria este o motivo.
Levantei-me e fui em direção ao corredor de apartamentos, pois alguma hóspede poderia ter passado pelo corredor e, coitadinha, exagerou na dose de perfume. Abri a porta do apartamento, olhei para os dois lados do corredor e não vi ninguém. O mais incrível era que o cheiro era dentro do meu apartamento e fora dele não se sentia nada.
Fechei a porta e, voltando para o quarto, percebi a porta do banheiro fechada, com a luz acesa. Ué! Nunca fecho a porta do banheiro? Aí senti os cabelos da nuca ficarem arrepiados, assim como os pelos dos braços.
Abri a porta lentamente, tentando ver, pelo reflexo do espelho, o que estaria lá dentro, mas sem resultado. Estranho foi ver a cortina do box fechada. Parecia cena de filme tipo “Psicose”, mas abri a cortina do box com violência e... NADA.
Saí do banheiro ainda todo arrepiado e voltei para o quarto. A TV continuava ligada, no mesmo canal, e o cheiro de perfume havia desaparecido. Nesta hora só pensei numa coisa:
- Eu vou é sair daqui!
Calcei os sapatos com pressa, vesti o paletó e desci para perambular pelo hotel. Voltei só depois do dia raiar e, por via das dúvidas, dormi com a TV ligada.
No dia seguinte, ao contar a história para a Chefe de Recepção, ela simplesmente me disse:
- Ela foi te visitar!
Não é preciso dizer que fiquei muito curioso em saber mais sobre o assunto.
Hoje penso como fui idiota: poderia ter pedido para trocar de apartamento, num outro andar!

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Só para matar a curiosidade: MANIÇOBA? QUE RAIO DE SOBRENOME É ESTE?

Pois é... por muito tempo achei um sobrenome esquisito também... depois descobri que era o nome de um prato típico nordestino e paraense, feito com as folhas da mandioca brava. Porém, a internet me possibilitou descobrir familiares pelo Brasil afora e até encontrei a árvore genealógica da família desde o século XVI, quando alguns portugueses, com sobrenome Gomes de Sá, desembarcaram no Brasil.

Acontece que meus antepassados sempre viveram em Floresta do Navio ou Floresta de Pageú, atual município de Floresta, no sertão pernambucano. Mas, por motivos pouco conhecidos - alguns historiadores dizem que por perseguição política, um antepassado registrou toda sua prole com os sobrenomes Pereira e Maniçoba. Isto ocorreu em meados de 1800. De lá para cá a família Maniçoba proliferou... mas ainda tenho muitos parentes com sobrenome Gomes de Sá, como minha avó e bisavó.

O que importa é que agora tenho subsídios para encarar os engraçadinhos de plantão, que insistem em fazer piadinhas com meu sobrenome e antecipo: gosto muito do sobrenome Maniçoba, tenho muito orgulho de ser Maniçoba e todos os Maniçoba são "gente boa".