domingo, 15 de fevereiro de 2009

Influência negativa...


No mesmo hotel, em Maceió, da camareira química, uma outra camareira altamente influenciável pelas experiências bem sucedidas de sua colega na arte de facilitar o trabalho de todas as camareiras do mundo, tentou uma nova experiência. Sim, meus amigos, mas desta vez ela não seria burra como a outra e não se atreveria a fazer misturas milagrosas.

Num belo dia de sol (o que, como disse antes, não é raro em Maceió), a camareira iniciou seu trabalho de limpeza dos apartamentos. Sabia exatamente o apartamento que faria sua experiência, a experiência que salvaria todas as camareiras do mundo de ter que ficar esfregando, esfregando e esfregando os rejuntes dos azulejos com água santitária, até ficarem branquinhos, como a pele da Branca de Neve.

Dirigindo seu carrinho à toda velocidade pelos corredores de apartamentos, a camareira (cujo nome também não me recordo), estacionou-o à porta do apartamento, como sempre deve ser feito: rodinhas travadas, impedindo o acesso de qualquer pessoa ao apartamento enquanto a porta ficasse aberta. Detalhe: uma camareira JAMAIS deve ficar no apartamento, ocupado ou vago, com a porta fechada.

De posse de suas garrafinhas, cheias de produtos químicos de limpeza, a camareira iniciou seu experimento: borrifou o produto de limpeza de louças sanitárias, aquele mesmo, forte, cheiro ácido (se tem cheiro ácido é porque é ácido, oras bolas) em TODOS os rejuntes de azulejos do banheiro, principalmente naqueles mais escuros e manchados com o bolor característico.

Sorrindo de satisfação (imagino que tenha sido assim), voltou-se para a cama e começou a limpeza tradicional - retira lençóis, coloca no carrinho, retira fronhas, coloca no carrinho, retira lixo dos cestos, coloca no carrinho... enquanto o produto fazia efeito nos rejuntes do banheiro.

Após um certo tempo se dedicando à arrumação da cama, a camareira escutou um barulho de louça se quebrando no banheiro. Assustada, correu para ver o que acontecia e deparou-se com a cena mais intrigante de sua vida: os azulejos caíam da parede e espatifavam-se no chão. Logo imagino a camareira, com lágrimas nos olhos, tentando impedi-los de caírem com as mãos, com os pés e enfim com o corpo todo, como nos desenhos animados em que o personagem tenta tapar os buracos de vazamento de água de uma represa.

Ai meu Santo Padim Padi Ciço... e agora?

Eu, no lugar dela, tentaria colar azulejo por azulejo com cola branca (funciona, sabia?), mas ela nem teve tempo de tentar uma solução, pois a Supervisora de Andares já havia escutado a quebradeira quando passava pelo corredor e lá estava para saber o que acontecia no apartamento.

Não houve nem tempo de inventar uma desculpa.

A camareira não foi demitida, mas lá fomos nós, de novo, chamar a empresa fornecedora dos produtos para dar novo treinamento às camareiras.

Depois desta tentativa não houve outras no hotel, ao menos enquanto eu lá trabalhava. Mas com frequência uma camareira voltava à governança reclamando do cheiro do produto e tossindo muito. Mas e a máscara? Por que não usavam? Vai saber... só sei que nunca mais vou pagar pedreiro pra trocar azulejos em casa: pago só pra colocar os novos, pois sei muito bem como tirar os velhos sem trabalho!

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Formada em Química

Camareiras existem em qualquer hotel do mundo, mas uma camareira formada em Química é algo raro. Não sei de qual faculdade é o seu diploma, mas tenho certeza que era uma excelente profissional (camareira, claro).

No hotel de Maceió, utilizávamos alguns produtos de limpeza muito específicos e, dentre eles, um concentrado que somente deve ser utilizado em louças sanitárias, para tirar manchas. Estes produtos eram comprados em galões e distribuídos em garrafas menores para uso individual das camareiras na limpeza dos apartamentos.

Uma certa camareira, cujo nome não me lembro (mas lembro da sua pretensa profissão: química), decidiu que poderia criar um novo produto de limpeza, capaz de remover toda a sujeira dos rejuntes dos azulejos. Este novo invento poderia ser patenteado e finalmente tiraria o "pé da lama". Quem sabe não ganharia o prêmio Nobel de Química? Este novo produto não exigiria o esforço físico de ficar com água sanitária esfregando, esfregando, esfregando com uma escovinha todos os rejuntes de azulejos... bastaria uma aplicação no rejunte e depois todas as manchas sumiriam, como num passe de mágica, bastando enxaguar: um milagre da química moderna.

Pois bem, num certo dia de sol (o que não é raro em Maceió, diga-se de passagem), a camareira aproveitou que sobrara um pouquinho de água sanitária numa garrafinha, e mais uns outros produtos de limpeza em outras garrafinhas e, trancada em seu cafofo, ou seja, a copa de andar, verteu o conteúdo do produto de limpeza de louças sanitárias na garrafinha contendo a água sanitária. Como acontece e todas as mágicas, desde o grande e único mestre Harry Houdini, a mistura começou a fazer fumaça... uma fumaça branca que logo de imediato tomou conta do cafofo, quero dizer, da copa de andar. Percebendo o resultado de sua experiência, a camareira ficou com medo de abrir a porta e ser descoberta por algum funcionário que passasse pelo hall dos elevadores de serviço; abriu a janelinha e começou a abanar a fumaça com um pano de serviço. Mas o esforço físico fez com que ela aspirasse a fumaça maldita... é óbvio que a anta, digo, a camareira começou a passar mal de imediato. Não havia dúvidas, teria que abrir a porta.

Quase desmaiando, e tossindo muito, a camareira chegou à governança, com os olhos inchados, vermelhos e lacrimejantes. A governanta começou a questioná-la sobre o ocorrido, mas ela recusou-se a falar a verdade, inventando uma historinha pra boi dormir: usou o produto num vaso sanitário, mas o cheiro do produto era muito forte e havia deixado ela naquele estado. Sem melhoras no seu quadro, a camareira foi levada ao hospital, de onde não retornou... não naquele dia, pois ficou internada com intoxicação química por ter respirado a fumaça de seu experimento milagroso.

Dias depois, após a camareira química retornar ao trabalho, chamamos a empresa fornecedora dos produtos para dar uma palestra às camareiras, com enfoque especial na segurança exigida no seu manuseio, a obrigatoriedade do uso de luvas de borracha, assim como nos resultados esperados por cada produto em especial.

Muito depois do ocorrido a camareira contou como foi sua experiência. Teve muita sorte de não ter tido queimaduras ou até mesmo um dano maior, como espirrar nos olhos e perder completamente a visão. As demais camareiras a chamaram de louca: como pode? não sabia que não podia misturar? é besta, é? endoideceste, foi?

Mas este não é o único nem o último caso de camareira metida à quimica na face da terra. Acredito que devem existir vários outros exemplos por aí... se você souber, me conte, tá?