segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Formada em Química

Camareiras existem em qualquer hotel do mundo, mas uma camareira formada em Química é algo raro. Não sei de qual faculdade é o seu diploma, mas tenho certeza que era uma excelente profissional (camareira, claro).

No hotel de Maceió, utilizávamos alguns produtos de limpeza muito específicos e, dentre eles, um concentrado que somente deve ser utilizado em louças sanitárias, para tirar manchas. Estes produtos eram comprados em galões e distribuídos em garrafas menores para uso individual das camareiras na limpeza dos apartamentos.

Uma certa camareira, cujo nome não me lembro (mas lembro da sua pretensa profissão: química), decidiu que poderia criar um novo produto de limpeza, capaz de remover toda a sujeira dos rejuntes dos azulejos. Este novo invento poderia ser patenteado e finalmente tiraria o "pé da lama". Quem sabe não ganharia o prêmio Nobel de Química? Este novo produto não exigiria o esforço físico de ficar com água sanitária esfregando, esfregando, esfregando com uma escovinha todos os rejuntes de azulejos... bastaria uma aplicação no rejunte e depois todas as manchas sumiriam, como num passe de mágica, bastando enxaguar: um milagre da química moderna.

Pois bem, num certo dia de sol (o que não é raro em Maceió, diga-se de passagem), a camareira aproveitou que sobrara um pouquinho de água sanitária numa garrafinha, e mais uns outros produtos de limpeza em outras garrafinhas e, trancada em seu cafofo, ou seja, a copa de andar, verteu o conteúdo do produto de limpeza de louças sanitárias na garrafinha contendo a água sanitária. Como acontece e todas as mágicas, desde o grande e único mestre Harry Houdini, a mistura começou a fazer fumaça... uma fumaça branca que logo de imediato tomou conta do cafofo, quero dizer, da copa de andar. Percebendo o resultado de sua experiência, a camareira ficou com medo de abrir a porta e ser descoberta por algum funcionário que passasse pelo hall dos elevadores de serviço; abriu a janelinha e começou a abanar a fumaça com um pano de serviço. Mas o esforço físico fez com que ela aspirasse a fumaça maldita... é óbvio que a anta, digo, a camareira começou a passar mal de imediato. Não havia dúvidas, teria que abrir a porta.

Quase desmaiando, e tossindo muito, a camareira chegou à governança, com os olhos inchados, vermelhos e lacrimejantes. A governanta começou a questioná-la sobre o ocorrido, mas ela recusou-se a falar a verdade, inventando uma historinha pra boi dormir: usou o produto num vaso sanitário, mas o cheiro do produto era muito forte e havia deixado ela naquele estado. Sem melhoras no seu quadro, a camareira foi levada ao hospital, de onde não retornou... não naquele dia, pois ficou internada com intoxicação química por ter respirado a fumaça de seu experimento milagroso.

Dias depois, após a camareira química retornar ao trabalho, chamamos a empresa fornecedora dos produtos para dar uma palestra às camareiras, com enfoque especial na segurança exigida no seu manuseio, a obrigatoriedade do uso de luvas de borracha, assim como nos resultados esperados por cada produto em especial.

Muito depois do ocorrido a camareira contou como foi sua experiência. Teve muita sorte de não ter tido queimaduras ou até mesmo um dano maior, como espirrar nos olhos e perder completamente a visão. As demais camareiras a chamaram de louca: como pode? não sabia que não podia misturar? é besta, é? endoideceste, foi?

Mas este não é o único nem o último caso de camareira metida à quimica na face da terra. Acredito que devem existir vários outros exemplos por aí... se você souber, me conte, tá?

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