sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Pare, Dona Márcia, senão lhe dou uma sapatada...

Não preciso dizer que os nomes são fictícios.

Trabalhava num flat aqui em São Paulo, meu primeiro emprego na hotelaria. Era recepcionista tournant, ou seja: peão mesmo... cobria folgas de todos os recepcionistas e não tinha horário fixo de trabalho.

Certo fim de semana, quando tudo estava num marasmo digno de "Sorriso do Lagarto", estávamos eu, outra recepcionista de nome Letícia, o mensageiro Leandro e a então telefonista Márcia. Éramos os únicos no Front Office do hotel.

O mensageiro Leandro era evangélico, e sempre dizia que tinha uma namorada de nome muito esquisito e que iria casar-se com ela. Márcia sempre fazia umas perguntas mais ousadas e ele sempre negava terminatemente: jamais uma "mão boba", uns carinhos mais ousados, um beijo mais invasivo ou qualquer outra coisa que a maioria das pessoas faz num namoro normal. Leandro jurava de pés juntos que, tanto ele, quanto sua namorada de nome esquisito eram virgens e que permaneceriam assim até a noite de núpcias. Mas Leandro era também muito "saidinho" e sempre fazia uns elogios chulos, principalmente à Marcia:

- Ow, Dona Márcia, a senhora tá muito gostosa hoje!

ou então...

- Se eu não fosse noivo a senhora não me escapava!

Mas Márcia sempre levou tudo na brincadeira e respondia:

- Ah, Leandro, você não é de nada... nem com aquela coitada da sua noiva você faz alguma coisa, vai querer fazer comigo? Se enxerga...

Mas neste fim de semana Márcia decidiu que iria se vingar de Leandro e elaborou, juntamente com os demais desocupados da recepção, um plano infalível:

  1. Chamaria Leandro para dentro do maleiro (compartimento de bagagens) para pedir a ele que retirasse a bagagem do Dr. Fulano de Tal que estava de volta ao hotel;
  2. Do lado de fora, eu trancaria o maleiro, de forma que o Leandro não tentasse escapar;
  3. Márcia tentaria seduzir Leandro dentro do maleiro.

Perigoso? Todos diriam que sim e que Márcia corria o risco de ser agarrada por Leandro. Mas se vocês o conhecessem perceberiam que não havia nenhum perigo: ele era muito inocente, apesar de seus 21 anos, muito extremista com relação à religião e, com certeza, entraria em pânico (ao menos era o que esperávamos).

Colocamos o plano em ação. Márcia abriu a porta que dava acesso à Recepção e disse numa voz suave:

- Leandro, você pode pegar a bagagem do Sr. Fulano de Tal que ele vai chegar hoje à noite.

- Claro, Dona Márcia! Seu pedido é uma ordem! - solícito este Leandro... como sempre cheio de lero-lero...

Ao entrarem no maleiro, Márcia deixou a chave de fora. Imediatamente fechei a porta e tranquei. Leandro, ao perceber, começou a gritar para abrirmos a porta. Lá dentro, Márcia iniciava seu plano e dizia com "voz de atendente de telesexo":

- Vem Leandro, eu sei que você me deseja... vem que hoje sou toda sua...

- Não Dona Márcia, pelo amor de Deus, não faz isso! Abre a porta... abre a porta - gritava o desesperado Leandro.

Márcia, indo mais além, desamarrou o lenço do pescoço (parte do uniforme) e começou a abrir os botões da blusa. Leandro entrou em pânico e gritava:

- Pare, Dona Márcia, não faz isso não... Abre a porta, por favor, abre a porta...

- Vem Leandro, eu sei que você me deseja e eu te desejo também... estamos sozinhos aqui... ninguém vai nos incomodar....

Neste momento, Leandro tenta arrombar a porta do maleiro, mas cai no chão. Indefeso, retira o sapato, levanta-se e grita:

- Pare, Dona Márcia, senão lhe dou uma sapatada!

Neste momento a gargalhada foi geral. Já estavam na porta do maleiro escutando o show: eu, a outra recepcionista, uma camareira, a mocinha da lavanderia e um rapaz da manutenção. Antes que Leandro realmente desse uma sapatada em Dona Márcia, abri a porta, e Leandro saiu correndo feito um louco em direção ao vestiário. Márcia estava sentada no chão, no canto do maleiro às gargalhadas, chorando de tanto rir.

Leandro desapareceu. Fomos vê-lo somente no dia seguinte, sério, compenetrado, sisudo. A partir deste dia as brincadeiras com Dona Márcia acabaram-se.

Márcia (este não é seu nome) ainda trabalha na hotelaria. Encontrei-me com ela várias vezes depois que voltei de vez para São Paulo, e lecionávamos no SENAC da Francisco Matarazzo. Relembramos esta história várias vezes e também é uma que faz parte do nosso repertório.

3 comentários:

  1. AHAHAHAHAHAHA
    Nao preciso nem dizer nada!!!!
    E a que ele teve dor de barriga no taxi vc lembra????

    ResponderExcluir
  2. Eu simplesmente amooooooooooooo essa historia. ja contei varias vezes, e odiava sempre ir aos 18º andar de qualquer htl..
    abç
    Marcos Danilo

    ah quero maissssssss

    ResponderExcluir
  3. Muito engraçado, esse rapaz é muito ingenuo kkk

    Thiago Damata

    ResponderExcluir